Fé e alegria marcam o dia de Cosme e Damião no Rio de Janeiro

Um carro estaciona e buzina. Logo dezenas de crianças correm em direção a ele, disputando a entrega de saquinhos de doces. Entre correria, pulinhos dos pequenos para alcançar a janela e até duelo de maria-mole, muitas risadas. Na esquina, uma senhora com uma caixa começa outra distribuição. Mais correria. As ruas do bairro Andaraí na zona norte do Rio de Janeiro estão repletas de crianças com mochilas e sacolas para juntar o máximo possível de guloseimas. É dia de Cosme e Damião.

“Promessa paga”, diz entre sorrisos o comerciante José Henrique Nunes.


Rio de Janeiro (RJ), 27/09/2025 – O comerciante José Henrique Nunes celebra o Dia de Cosme e Damião, santos católicos também adorados nas religiões de matriz africana, nas ruas do bairro do Andaraí, Zona Norte da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 27/09/2025 – O comerciante José Henrique Nunes celebra o Dia de Cosme e Damião, santos católicos também adorados nas religiões de matriz africana, nas ruas do bairro do Andaraí, Zona Norte da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Rio de Janeiro (RJ), 27/09/2025 – O comerciante José Henrique Nunes celebra o Dia de Cosme e Damião. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

As caixas que levavam doces na carroceria da caminhonete esvaziaram em um piscar de olhos, entregues às mãozinhas que cercaram o carro.

“Esse garoto aqui, com 20 dias de vida teve meningite. Graças às crianças, ao nosso Deus maior e a Jesus Cristo, meu filho está aí e não tem mais nada. Eu me comprometi, por sete anos, a vir aqui com ele assistir a uma missa e dar os docinhos”.

Nunes apresenta o filho, Samuel, que hoje está com 2 anos e teve a vida salva “pelas crianças” Cosme e Damião.


Rio de Janeiro (RJ), 27/09/2025 – A aposentada Tânia Ponciano distribui doces e brinquedos para crianças no Dia de Cosme e Damião, santos católicos também adorados nas religiões de matriz africana, nas ruas do bairro do Andaraí, Zona Norte da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 27/09/2025 – A aposentada Tânia Ponciano distribui doces e brinquedos para crianças no Dia de Cosme e Damião, santos católicos também adorados nas religiões de matriz africana, nas ruas do bairro do Andaraí, Zona Norte da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Rio de Janeiro (RJ), 27/09/2025 – A aposentada Tânia Ponciano distribui doces e brinquedos para crianças no Dia de Cosme e Damião. Foto:Fernando Frazão/Agência Brasil

A senhora que distribui doces na esquina é a aposentada Tânia Ponciano, 65 anos.

“Meu amor, a tia vai pegar mais no carro”, justifica para uma das crianças que ficou triste por não ter conseguido chegar a tempo de pegar um doce.

Os doces de Ponciano são especiais. Ela mesma faz as maçãs cobertas de chocolate.

“Eu sou muito devota. Minha devoção é de muito amor. A minha mãe era umbandista, tinha um terreiro. A minha família toda é de umbanda, então, a gente continuou a missão da mamãe”, conta.

Depois de garantir a própria maçã achocolatada, Kennedy, 6 anos, pediu até para posar para foto.

“Eu gosto muito, pego muito doce, uns 20 saquinhos. Junta os meus com os do meu irmão e fica bem grandão”, diz animado.

Ibejis: Cosme e Damião

A festa dos santos Cosme e Damião é uma comemoração de origem cristã, mas que no Brasil foi influenciada por tradições de matriz africana, celebrada no dia 27 de setembro pela população dessas religiões e no dia 26 pela Igreja Católica. 

Em 27 de setembro, celebra-se o dia do orixá das crianças, Ibejis, representados por dois gêmeos, que remetem à infância, à inocência e à vontade de viver.

À época da escravidão, pessoas trazidas à força da África não eram livres para cultuar as suas divindades. Tinham que as associar com alguns santos católicos para não serem perseguidas.

Ibejis foram, então, associados aos santos Cosme e Damião, dois irmãos médicos que realizavam curas por volta do ano 300 na Ásia Menor, entre os atuais territórios da Síria e Turquia. 

A infância e os doces vieram desse sincretismo.


Rio de Janeiro (RJ), 27/09/2025 – Padre Walter Almeida Peixoto na celebração do Dia de Cosme e Damião, na Paróquia de São Cosme e São Damião no Andaraí, Zona Norte da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 27/09/2025 – Padre Walter Almeida Peixoto na celebração do Dia de Cosme e Damião, na Paróquia de São Cosme e São Damião no Andaraí, Zona Norte da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Rio de Janeiro (RJ), 27/09/2025 – Padre Walter Almeida Peixoto na celebração do Dia de Cosme e Damião, na Paróquia de São Cosme e São Damião no Andara. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O padre Walter Almeida Peixoto, da paróquia de São Cosme e São Damião, no bairro Andaraí, explica que para o catolicismo, os dois são representados por homens crescidos.

“Nas religiões de matriz africana, eles são identificados como Ibejis, como crianças. O que eles não são, eles são homens, médicos”, diz.

“Não é a nossa fé católica, mas não deixa de ter alguma conexão com os santos católicos, então, é também uma oportunidade de evangelizar”.

Basta sair do interior da igreja, que no próprio pátio, apesar de não ser uma tradição que vem do catolicismo, há quem esteja distribuindo ou correndo atrás de doces. Amanda Gregório, 30 anos, é uma delas.

“É uma data muito especial, muito importante. As crianças ficam muito alegres com os doces e Cosme e Damião são muito importantes para mim”, diz, enquanto indica para a filha onde ir para pegar mais guloseimas.

No Rio de Janeiro, a força dos Ibejis marca o Encontro de Povos de Terreiro, que começou nesta sexta-feira (26) e segue até dia 5 de outubro.

A programação conta com distribuição de doces, recreação infantil e contação de histórias. O dia é de festa.

“Tem bala de coco e peteca. Deixa a Bejada brincar. Hoje é dia de festa. Bejada vem saravá!”, como convida a canção Ponto de Bejadas.

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