Salário médio de profissionais de animação encolheu 12,1% desde 2019

De 2019 para 2025, o salário médio dos profissionais do mercado de animação encolheu 12,1%, passando de R$ 7.980 para R$ 7.010. Eles são, em sua maioria, freelancers, ou seja, trabalham sem vínculo empregatício nem direitos respaldados por leis, e em pequenas empresas. As constatações estão detalhadas no 2º Mapeamento da Animação no Brasil, do Instituto Iniciativa Cultural, que discute as questões inerentes ao setor e considera imprescindíveis verbas federais diretas e indiretas nos projetos de animação.

O levantamento também mostra que poucos desses profissionais já trabalharam para estrangeiros, e um contingente ainda menor internacionaliza conteúdos e criações de sua autoria.

A pesquisa foi possível por um financiamento do Ministério da Cultura, por meio da Lei Paulo Gustavo, via Spcine, a empresa de cinema e audiovisual da cidade de São Paulo.

O que orientou a análise foi a percepção de 466 participantes, entre eles estão:

  • produtoras: equipe responsável e viabilização pela gestão do projeto;
  • estúdios: quem cria os conteúdos, que podem ser filmes, séries ou estar em outro formato audiovisual;
  • prestadores individuais: que trabalham para terceiros, sob encomenda de projetos;
  • realizadores audiovisuais: aqueles que não têm a animação como sua principal atividade e, portanto, não detêm os direitos autorais sobre as obras.

O estudo levou um ano e dois meses para ficar pronto e resume quais as perspectivas dos profissionais e empresas, as barreiras que dificultam a circulação das obras dentro e fora do Brasil, e a estrutura do segmento. Sua primeira versão data de 2019, e foi agora incrementada por uma mais ampla, que adiciona perguntas para obter um retrato ainda mais fiel dos profissionais de animação. Na versão  mais antiga, o Instituto Iniciativa Cultural foi consultor do Festival Anima Mundi e da consultoria JLeiva.

Profissionais experientes

Na maioria das funções exercidas, predominam profissionais com carreira longa ou muito longa, de 10 a 20 anos ou mais de 20 anos. Seu domínio de técnicas de inteligência artificial (IA), tendência que vem ganhando relevância em diversas profissões, é, na maior parte, relativamente bom. 

Ao lado dos recursos de IA, cresceu, no período, o uso de outros, como animação vetorial/cut-out/digital 2D e animação 2D tradicional. Por outro lado, ferramentas de motion graphics/motion design e técnicas mistas, às quais recorriam quatro em cada dez profissionais, estão sendo menos empregadas atualmente. 

O trabalhoso stop motion, feito de quadro a quadro, com o movimento dos personagens materializados por sequências de fotos, em que diferenças gestuais são sutilmente arranjadas, também foi mais popular anos atrás. A porcentagem de utilização caiu pela metade, de 32% para 16%.

Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora da pesquisa, Alessandra Meleiro, disse que os profissionais da área não têm ultrapassado fronteiras geográficas, o que se constata por proporções evidenciadas no levantamento. Somente 2% dos freelancers prestam serviço exclusivamente para companhias do exterior e 53% para empresas nacionais e estrangeiras, simultaneamente. Desta última parcela, sua mão-de-obra é aproveitada majoritariamente pelas brasileiras (69%). 

Em relação a países que prestam serviço ao Brasil, estão em destaque Estados Unidos, Argentina, França, Índia e Peru. A parcela de profissionais que importam serviços é de 10%, com maior frequência em animação, composição musical, design de personagens, finalização e cenografia. 

Fatores que podem explicar essa baixa proporção são o câmbio desfavorável e, na outra ponta, a disponibilidade de talentos nacionais. O continente asiático, salienta Meleiro, “é um gigante do audiovisual” e ainda permanece longe do alcance dos brasileiros.

Oportunidades

Para quem está cogitando investir em uma carreira dentro da cadeia de animação, a pesquisa enumera os cargos mais difíceis de serem preenchidos pela escassez de profissionais especializados: 

  • animador e rigger: domina a técnica de animação em 3D que adiciona movimento a um personagem simulando articulações
  • diretor de animação: dirige o trabalho e precisa compreender todas as etapas da produção audiovisual
  • produtor executivo: atua garantindo patrocínio e outras fontes de dinheiro para o bom andamento do projeto

Meleiro avalia que o Brasil tem um potencial inexplorado na área, tanto no interior do país como no exterior. Ela destaca alguns dados surpreendentes, como o protagonismo da região Sul.

“Essa descentralização vem ocorrendo”, avalia. 

A ausência, porém, dos profissionais, em eventos da área pode estar significando serem excluídos de mesas de negociação. Segundo a especialista, também pode estar impedindo de terem o trabalho mais valorizado e ganharem em dólar. “[Os eventos] são onde acontece oportunidade de negócios, de coprodução, networking.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *