O DEUS IRÔNICO

Dentre as mais insondáveis e complexas descrições, possíveis e impossíveis, digo ser irônico o modus operandi do Eterno. Espero que tenha lido essa frase sem espanto ou novidade, afinal o conceito de um Deus presente e atuante é largamente testemunhado desde os tempos primordiais. É bom nos lembrarmos do que atestou a serva Hagar, em Gênesis 16, quando ao ser encontrada por Deus num deserto junto a um poço, o nomeou de “Beer-Laai-Rói” ou “Poço Daquele Que Vive e Me Vê”. Afinal, se somos dirigidos pelos cuidados de um Deus vivo e observador, não estranho aos nossos passos, é esperado que Este tenha uma forma peculiar de desenhar o nosso destino.

Pois bem, estava sentado à mesa com meus pais, tendo chegado de uma proveitosa viagem de final de semana, até que fui interpelado acerca do que Deus teria falado ao meu coração naquele domingo. Mesmo já tendo adiantado o assunto remotamente, logo após o culto da manhã, vi nos meus pais uma curiosidade santa em descobrir mais a fundo os impactos da minha experiência.

Foi quando exclamei de início: “acho que Deus gosta de ser irônico comigo”, rindo entre os dentes. Bem eu sabia que minha mãe, muito mais do que eu mesmo, provou de tal verdade inúmeras vezes e concordaria com aquela minha colocação. Gosto de pensar que Ele nos trata de forma parecida porque, de certa forma, me sinto muito parecido com minha querida mãe – muito embora nesse caso não consiga empregar a versão feminina do dito “filho de peixe, peixinho é”.

De tal conversa, debandamos a lembrar de alguns episódios em que o Eterno, segundo a sua infinita sabedoria e incrível senso de humor, teria sido bem “engraçadinho” ao considerar minhas situações. Uma delas é bem oportuna e vale a recordação, começando pela elaboração destes chorosos parágrafos que descrevo e me descrevem.

Se voltarmos alguns bons anos no passado, mais especificamente no Ensino Fundamental do Centro Integrado de Atividades Culturais Raymundo Andrade (CIAC), veríamos um menino agitado de cabelos escorridos que só pensava em ser o Homem-Aranha. Até aí, tudo bem, o problema foi que a Tia Viviane, mais astuta que uma aranha radioativa, me fez ser picado pelo temido “bichinho-da-literatura”.

Inobstante meus encantos pela arte do uso das palavras em rima ou em crônicas elucidativas, eu era um dos piores alunos em Língua Portuguesa, Literatura e Prática de Escrita daquela instituição. Foi por longas intercessões mosaicas de meus pais que eu nunca reprovei em nenhuma matéria. Enquanto seus braços estavam erguidos (com um chinelo na mão) eu vencia as provas. Porém quando seus braços se abaixavam, eu era derrotado pela crueldade das regras gramaticais – sem olvidar a temida geometria analítica.

Nesse aspecto particular – e julgo oportuno me ater somente a este – a ironia se encerra no fato de que tem sido justamente pela escrita que o Senhor tem me usado e falado ao meu coração nos últimos anos. Foram poemas, sermões, crônicas, até roteiros, e sabe-se lá o que ainda me aguarda nessa breve caminhada por aqui. Apenas luto para que os talentos não sejam escondidos na terra e, por isso, louvo a Deus pela oportunidade de vos falar por meio destas tantas linhas periódicas nas quais peço a vênia de ser um pouco mais pessoal desta vez.

Por fim, mesmo ruim de notas, tomei nota disso: Deus usa os improváveis, para provarem aos prováveis, que apesar da provação, no fim serão aprovados. Entendeu? Eu poderia prosseguir em mais um último relato, e foi justamente este que deu a origem a conversa com meus pais bem como a este texto. Mas, como ainda é uma história em aberto, prefiro dar espaço a um Escritor bem melhor do que eu: Aquele que escreve em linhas tortas; aquele que escreve em tábuas de pedra e também no chão de areia. Sei que Ele vai elaborar uma história melhor do que a minha, afinal Ele é detentor de pensamentos muito maiores. Deixo apenas o spoiler do final do próximo capítulo: Deus é bom o tempo todo e a sua misericórdia dura para sempre!

– Henrique Filho

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